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Revista Incêndio: A arte de prevenir
Lilian Salim, presidente da ABICHAMA, foi entrevistada pela Revista Incêndio e reforçou a importância do uso de materiais de baixa flamabilidade para aumentar a segurança contra incêndios em cinemas e teatros. A matéria de capa da edição nº 177 da revista, de abril de 2020, abordou materiais de acabamento e revestimento, mobiliário e rotas de […]
Lilian Salim, presidente da ABICHAMA, foi entrevistada pela Revista Incêndio e reforçou a importância do uso de materiais de baixa flamabilidade para aumentar a segurança contra incêndios em cinemas e teatros.
A matéria de capa da edição nº 177 da revista, de abril de 2020, abordou materiais de acabamento e revestimento, mobiliário e rotas de fuga como importantes fatores para a segurança contra incêndio em salas de cinema, teatros e museus. Confira abaixo alguns trechos da entrevista:
Lazer com segurança: cinemas e teatros exigem sistemas eficientes no acabamento e revestimento do mobiliário, assim como rotas de fuga bem estruturadas
O dia 10 de abril de 1938 ainda é lembrado com tristeza nos dias de hoje. Nesta data, famílias inteiras e muitas crianças aproveitaram o Domingo de Ramos, tradicional data cristã que antecede a Páscoa, para curtir uma tarde de cinema na matinê do Cine-Teatro Oberdam, uma construção suntuosa no bairro do Brás, em São Paulo. […] Na tela, enquanto dois aviões se chocavam, na plateia ouviu-se grito de “fogo!”. O desespero foi geral e todos começaram a descer as escadas em direção à porta de saída. A sala, que comportava 1.600 pessoas, no entanto, não tinha saídas pensadas para situações de pânico, apenas dois corredores estreitos que levavam até o hall. Em poucos minutos, deu-se um massacre, que resultou na morte de 30 crianças e um adulto.
Sabe-se que não houve incêndio e o alarme de “fogo” foi falso. Pelos indícios, a teoria mais aceita é a de que uma criança teria colocado fogo em algumas folhas de jornal no chão do banheiro da sala de cinema para iluminá-lo, enquanto utilizava-o, já que as luzes estavam apagadas e as salas eram totalmente escutas naquela época. Ele teria deixado a porta entreaberta, para aproveitar a luz da tela. Do lado de fora, alguém teria visto as chamas e soado o alarme falso que desencadeou a tragédia.
O caso comoveu e promoveu mudanças nas leis municipais. Até o incidente, as portas de cinema e teatros possuíam travas do lado de fora e muitas vezes permaneciam fechadas até o final da sessão, para evitar que alguém entrasse sem pagar. A legislação passou a exigir que as travas fossem do lado de dentro e que as portas ficassem destrancadas.
Salas de cinema e teatros precisam ter equipamentos como sprinklers, extintores, mangueiras de incêndio, portas corta-fogo e portas de emergência com barras antipânico e iluminação de emergência. […] A escolha de materiais com controle de inflamabilidade é essencial para reduzir o risco de incêndios. Segundo a IT-14 do Corpo de Incêndios de São Paulo, que é adotada em vários outros estados brasileiros, cinemas e teatros têm uma carga de 600 megajoules por metro quadrado, que pode ser considerado um risco médio. No entanto, Lilian Salim, presidente da ABICHAMA, afirma que deve ser levado em consideração que a carga de incêndio depende do tipo de material usado em cada ambiente, seja no acabamento ou em materiais de revestimento, ou ainda na mobília. “Portanto, a escolha de materiais com controle de inflamabilidade é muito importante para reduzir o risco de incêndio nesses locais”, enfatiza a presidente.
Exige-se, para esses casos, que o material utilizado tenha bom desempenho contra o princípio de incêndio, exatamente para evitar o rápido crescimento do fogo para os materiais de acabamento e revestimento. “Há diferentes formas de tratamento desses materiais para que atendam aos requisitos de segurança exigidos. Entendo que o melhor deles é o ‘tratamento’ já incorporado à fabricação do material, que garante o seu desempenho a longo prazo. Isto é, que os matérias já incorporem, na sua fabricação, elementos que dificultem sua ignição e que este seja permanente”, diz Rosária Ono, coordenadora do Grupo de Fomento à Segurança contra Incêndio (GSI). “Este tratamento do mobiliário não é exigido pelas normas do Corpo de Incêndio, portanto, não é obrigatório no Brasil, mas é recomendado”, acrescenta Rosário.
Para Lilian, da ABICHAMA, “com a crescente conscientização da população civil, do empresariado e da comunidade técnica, a demanda por tecnologias de controle de inflamabilidade deve crescer naturalmente”. Segundo ela, a reavaliação de padrões de segurança contra incêndio deve acontecer de forma contínua, tanto por conta dos últimos grandes incêndios registrados no país, como por conta do desenvolvimento de novas tecnologias de proteção passiva contra incêndio.
A presidente da Associação lembra que, desde as tragédias no Museu da Língua Portuguesa, em 2015, e do Museu Nacional do Rio de Janeiro, em 2018, “pouco se avançou nesse sentido”. De lá para cá foram discutidos alguns projetos de lei, como o PL 1092/2019, que tratava da proibição o uso de espuma de poliuterano em edificações destinadas a atividades artísticas e culturais e esportivas ou dormitórios coletivos, assim como o PL 592/2019, que previa a obrigatoriedade de sprinklers em quaisquer estabelecimentos públicos e privados.
“Esses projetos de lei foram apensados ao PL 4923/2013, que aborda de uma forma mais ampla a questão das obrigações dos proprietários de estabelecimentos que funcionem em locais fechados, de forma a tornar mais rigorosa a liberação de alvarás de funcionamento. No entanto, apesar de estar pronto para ir a Plenário, esse projeto de lei ainda está parado. Temos muito trabalho pela frente no que diz respeito às legislações e regulamentações, mas estamos no caminho certo”, conclui Lilian.