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Normas reduzem risco de incêndio e estimulam uso de aditivos mais adequados
Texto: Antonio Carlos Santomauro Revista Plástico Moderno Embora a atividade econômica siga inibida, desenvolve- se no Brasil – talvez não na velocidade desejada – o ambiente regulatório sobre controle de incêndios (ver pág. 30). Tal movimento reverbera no mercado dos retardantes de chamas, no qual a oferta de insumos é mais diversificada, buscando atender tanto […]
Texto: Antonio Carlos Santomauro
Revista Plástico Moderno
Embora a atividade econômica siga inibida, desenvolve- se no Brasil – talvez não na velocidade desejada – o ambiente regulatório sobre controle de incêndios (ver pág. 30). Tal movimento reverbera no mercado dos retardantes de chamas, no qual a oferta de insumos é mais diversificada, buscando atender tanto os requisitos de eficácia e custos, quanto os preceitos da sustentabilidade. Nessa busca, elas combinam produtos não halogenados com aqueles fundamentados no bromo; esses últimos, muitas vezes em versões mais modernas, que prometem minimizar os impactos ao meio ambiente e diminuir a oposição ao seu uso.
Os produtos reativos e poliméricos se consolidaram como as duas principais vertentes do desenvolvimento dos novos retardantes halogenados. Os primeiros, diferentemente dos tradicionais aditivos, reagem com os polímeros e têm, portanto, menores probabilidades de migrar para a superfície do material e daí para o meio ambiente. Já os retardantes poliméricos apresentam moléculas maiores e, consequentemente, mais dificuldades para penetrar no organismo dos seres vivos. Retardantes halogenados e poliméricos já constam dos portfólios dos principais players dessa indústria caso da Lanxess, que entre outros produtos disponibiliza o reativo PH4 Diol, utilizado especialmente em PU rígido, e o polimérico Emerald Innovation 3000, uma alternativa ao HBCD (hexabromociclododecano), até há pouco tempo utilizado em larga escala em aplicações de EPS (poliestireno expandido), mas atualmente banido do portfólio das grandes multinacionais desse mercado (inclusive da própria Lanxess, assim como da Albermale e da ICL-IP). No Brasil, o HBDC ainda chega por meio de importação, especialmente da Ásia. A partir de novembro de 2019 não mais serão concedidas licenças para comprar esse material no exterior.
Conjugando essa modernização com suas características de eficácia, os retardantes halogenados se mantêm altamente relevantes, observa Soraya Jericó, gerente de vendas da unidade de negócio de Additives da Lanxess. “Há décadas se fala no seu abandono, mas eles permanecem utilizados em grande escala, pois são extremamente eficientes e há algumas normas que somente são atendidas por eles”, salienta. Mas o portfólio de retardantes da Lanxess inclui soluções com e sem halogênios. Até há pouco tempo, nele havia apenas os produtos das marcas Levagard, mais utilizados em aplicações de PU e que podem ou não conter halogênios, e Disflamoll, de ésteres que combinam a atividade como plastificantes com a função do retardamento. Agora, ele inclui também os produtos oriundos da Chemtura (adquirida pela Lanxess no início do ano passado), entre os quais Soraya cita o Emerald Innovation NH-1, um produto não-halogenado (à base de fósforo), destinado a espumas de PU, cujo uso em mobiliário desde 2015 é objeto de uma norma da ABNT. “É um produto extremamente indicado também para os estofados da indústria automobilística, pois tem baixíssimo índice de fogging”, complementa Soraya. Na Chemtra, o portfólio inclui o retardante reativo FR-122P, para EPS e XPS (PS extrudado). “Estamos desenvolvendo retardantes reativos para outras resinas”, afirma Selena Mendonça, gerente de negócios dessa empresa que distribui no Brasil os retardantes da israelense ICL-IP. Também o portfólio da Chemtra mescla retardantes bromados com outros à base de fósforo, que, de acordo com Selena, têm seu espaço mercadológico assegurado por aplicações distintas. “O bromo não vai bem nas espumas de PU, que utilizam basicamente produtos com fósforo, mas prevalece amplamente nas poliolefinas, nos plásticos de engenharia, nos termofixos detalha. Mas a Chemtra já oferece retardantes não halogenados eficazes para alguns plásticos de engenharia, como ABS e PC.
Outras opções – Do portfólio da Neotrade, que distribui no Brasil os retardantes da Albermale, já constam dois retardantes poliméricos. “Um para EPS e outro para poliamidas”, especifica Rogério Andrade do Carmo, gerente comercial da Neotrade. As versões poliméricas ainda têm preço ligeiramente superior ao dos retardantes halogenados convencionais e exigem concentrações mais elevadas. “Mas já percebemos um movimento de clientes em setores como construção civil, eletroeletrônicos e indústria automobilística, buscando a homologação de produtos que utilizam esses retardantes poliméricos”, relata Carmo.
A Neotrade distribui também alumina tri-hidratada, da alemã Alpha Calcit, e, em parceria com potenciais clientes, estuda a possibilidade de homologação de produtos que utilizam hidróxido de magnésio como retardante. “O hidróxido de magnésio pode ser uma alternativa aos compostos com bromo. Ainda é mais caro, mas já há clientes interessados em avaliar seu uso”, ressalta Carmo. Na Basf, o portfólio de retardantes inclui duas linhas de produtos não halogenados Melapur, à base de melamina, e Flamestab NOR 116, derivado de triazina. A primeira é mais voltada aos plásticos de engenharia, por exemplo, poliamidas aplicadas em eletroeletrônicos. “Melapur é um retardante de chamas livre de halogênio, antimônio e metais pesados”, destaca Debora Freixedelo, da equipe de marketing de Aditivos para Plásticos da Basf. Por sua vez, o Flamestab NOR 116 combina a função do retardamento com a proteção contra raios UV e tem características antitérmicas, sendo indicado para aplicações poliolefínicas com baixas espessuras, como ráfias, não-tecidos, filmes, fios e cabos. “É um produto eficaz mesmo em pequenas concentrações”, afirma Débora. Segundo ela, em concentração de 1%, o Flamestab NOR 116 apresentou “excelente desempenho” nos testes NFPA 701 e MVSS 302 (focados, respectivamente, na avaliação da resistência a chamas de tecidos e de materiais presentes em interiores de automóveis).
Opções de sinergistas – A tecnologia de retardamento de chamas evolui também nos chamados sinergistas, que atuam conjuntamente com um retardante, ou com uma substância com propriedades similares, para potencializar o desempenho de suas funções, de modo a reduzir a sua dosagem, entre outras vantagens. Um dos mais conhecidos dos sinergistas é o trióxido de antimônio, utilizado principalmente em PVC flexível (aos quais se adicionam altas doses de plastificantes combustíveis), cuja função retardante depende da associação com um halogênio que, no caso do PVC, é o próprio cloro dessa resina, e em outras aplicações geralmente é o bromo de um retardante. “O trióxido de antimônio é usado apenas em PVC, mas também em ABS e pode atuar em PP e PE”, relata Wagner Colavita, diretor da Oxy, tradicional fornecedora desse produto. Segundo ele, o trióxido de antimônio é extremamente eficaz e não está sujeito a restrições ambientais, que podem surgir apenas como decorrência dos retardantes aos quais ele possa se associar, sendo utilizado em larga escala em todo o mundo. “A não ser em algumas aplicações específicas, ao menos no médio prazo, ele tem garantido um amplo mercado”, projeta o diretor da Oxy. “Tenta-se há muito tempo substituí-lo, mas as possíveis alternativas são muito mais caras e menos eficazes”, acrescenta. Mas existem concorrentes. Um deles, o Dicumene, recentemente lançado pelo SI Group, tem por base o cumeno (propil benzeno) e também pode ser usado isoladamente em resinas nas quais há um halogênio, caso do PVC, ou em parceria com retardantes halogenados. O material de apresentação desse produto destaca a possibilidade de seu uso como forma de reduzir as quantidades de retardantes halogenados utilizados em resinas como o EPS.
“Mas vejo potencial para seu uso também em aplicações de PVC, PS, XPS, HIPS (PS de alto impacto) e espumas usadas na construção civil”, cita Eduardo Smetana, gerente de negócios do SI Group. “Ele tem desempenho sinérgico com sistemas específicos de PP”, acrescenta. O SI Group também está comercializando o 4,4 Biphenol, que anuncia integrar em um único produto a característica antichamas com a proteção contra oxidação e a resistência a impactos. “Esse produto já é empregado em plásticos avançados em aplicações especiais, como equipamentos médicos e eletrônicos, e para fazer alguns polímeros de cristal líquido (LCPs) e polifenilsulfonas (PPSU) ”, detalha Smetana. “Também pode ser intermediário em alguns retardantes à base de fósforo, aumentando significativamente suas propriedades retardadoras, e atuar como sinergista em combinação com essas retardadores”, acrescenta.
No portfólio da Lanxess, produtos como o Disflamoll TP 51092 e integrantes da linha Reofos (oriunda da Chemtura) também combinam as funções de retardamento de chamas com a de plasitificantes, explica Soraya. Segundo ela, no Brasil já é possível notar expansão da demanda por produtos inovadores e ambientalmente mais saudáveis, entre os quais cita o retardante não-halogenado Emerald Innovaton NH1, mais empregado pela indústria moveleira. “Aqui esse produto ainda é utilizado principalmente por quem exporta ou pretende exportar móveis, pois em outros mercados as normas são mais rígidas”, ressalta Soraya.
Questões de mercado – A Chemtra também tem sinergistas que combinam as funções de retardantes e plastificantes, por exemplo, na linha de fosforados Phosflex. E, de acordo com Selena, a empresa começou a trazer ao Brasil produtos bromados que combinam a ação retardadora de chamas com outras funcionalidades, como resistência à luz UV e a impactos. “Os produtos com resistência UV podem ser aplicados em artigos como caixas de tomadas e de interruptores que ficam expostos à luz do sol, enquanto aqueles com resistência a impactos são interessantes para itens como gabinetes de televisores e computadores”, detalha. De acordo com Selena, as dificuldades da economia brasileira tornam difícil prever se a Chemtra conseguirá este ano expandir seus negócios com retardantes. “Mas vejo muitas empresas, especialmente da construção civil, interessadas em desenvolver produtos com padrões mais elevados de retardamento a chamas”, ressalta. “Esse interesse decorre de uma série de fatores: há mais normas – mais rígidas – e os bombeiros estão mais rigorosos nas fiscalizações e nas exigências”, pondera Selena. Mas a principal força motriz da demanda por retardantes é realmente a dinâmica da economia, aponta Carmo, da Neotrade. Sua empresa, ele prossegue, até registrará este ano algum incremento em seus negócios, mas principalmente pela redução da concorrência. “No final do ano passado, o governo chinês começou a trabalhar mais firmemente na questão ambiental, chegando a fechar fábricas, e isso diminuiu a oferta de produtos chineses no Brasil”, observa o profissional da Neotrade. Por sua vez, Colavita, da Oxy, lembra que os dois principais usuários de trióxido de antimônio – construção civil e indústria automobilística, responsáveis por algo entre 80% e 90% do consumo desse produto – sofreram bastante com a recessão da economia nacional. Mesmo assim, no primeiro semestre houve algum aquecimento da demanda: “Em volume, vendemos entre 4% e 5% a mais que no mesmo período do ano passado”, diz. “Difícil, porém, prever o que ocorrerá no restante do ano, até porque houve a greve dos caminhoneiros e haverá eleições”, finaliza Colavita.
Arcabouço regulatório precisa avançar mais
Desde a tragédia que em 2013 matou mais de 240 pessoas e feriu outras centenas na Boate Kiss, na cidade de Santa Maria-RS, já foram publicadas pelo menos quatro normas relacionadas a controle de incêndios e surgiram diversos projetos legislativos focados nesse tema (ver quadro). Mas esse arcabouço regulatório ainda precisa avançar, afirma Antonio Fernando Berto, chefe do Laboratório de Segurança ao Fogo e a Explosões do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo) e coordenador do Comitê de Estudos de Reação ao Fogo do CB-24 (Comitê de Segurança contra Incêndio da ABNT). Já houve, ele reconhece, avanços em normas como a NBR 16625:2017, publicada no ano passado. E, agora, discute-se na ABNT uma norma para coberturas, sempre sujeitas a focos de incêndio provenientes de fontes como quedas de balões, fogos de artifício e bitucas de cigarros. “Também pretendemos uma norma específica para fachadas, o incêndio do edifício Grenfell Tower, que no ano passado matou 79 pessoas em Londres, propagou-se principalmente por ter uma fachada bastante utilizada no Brasil, composta por painéis de alumínio e polietileno”, destaca Berto. Para ele, o ideal seria haver um processo de certificação dos materiais a partir de suas características de reação ao fogo, destacando aqueles com maior qualidade nesse quesito. “Esse tipo de certificação já existe nos Estados Unidos e na Europa”, afirma Berto.
“E temos hoje retardantes muito eficazes para promover grandes melhorias no desempenho dos plásticos em relação à segurança contra incêndio”, ele acrescenta.Tal opinião é endossada por Sylvio do Carmo, presidente da Abichama (Associação Brasileira da Indústria de Retardantes de Chama). “Existem retardantes extremamente eficazes para a maioria aplicações; no caso de um incêndio em uma sala, por exemplo, eles podem aumentar em até dez vezes o tempo de escape se estiverem aplicados em móveis e em outros artigos”, ressalta. A Abichama, relata Carmo, vem acompanhado ativamente as iniciativas de instituições como ABNT e Inmetro, e no ambiente legislativo participa das reuniões de uma Frente Parlamentar Mista de Segurança Contra Incêndio, criada em 2015. “Mas o Brasil ainda é muito carente de regulamentação nessa área”, reconhece o presidente da entidade.